Durante
as atividades de pesquisa do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho sobre a área de
alimentação de animais da espécie Trichechus
manatus manatus na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape,
pesquisadores da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) e da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) fizeram uma descoberta importante para
a área científica brasileira. As biólogas Maria Elisa Pitanga e Karine
Magalhães identificaram na região a presença de uma planta que há anos
vinha sendo considerada extinta no Brasil: a angiosperma marinha Halophila
baillonis, espécie potencial para alimentação do peixe-boi marinho. O
artigo desenvolvido pelas biólogas, com participação do médico veterinário e
diretor-presidente da FMA, João Carlos Gomes Borges, acaba de ser publicado nos
Anais da Academia Brasileira de Ciências (www.abc.org.br).
A
pesquisa fez parte da atividade de “Mapeamento, caracterização das áreas de
forrageio (fanerógamas marinhas e macroalgas) e dos impactos nos locais de
alimentação dos peixes-bois marinhos” do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – uma
estratégia de conservação e pesquisa da FMA para evitar a extinção desta
espécie no Nordeste do Brasil. A bióloga Maria Elisa Pitanga, coordenadora
técnica do Projeto, enfatiza a importância da descoberta: “Um estudo publicado
recentemente divulgou um quadro de status de conservação das espécies de
angiospermas marinhas no mundo, e boa parte das espécies citadas apresentam um
grau de vulnerabilidade devido a ações antrópicas que os ecossistemas vem
sofrendo ao longo de décadas. Quando fizemos esta descoberta referente à
Halophila baillonis na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio
Mamanguape, ficamos muito felizes. Para quem trabalha com pesquisa e, no nosso
caso, quem estuda os ecossistemas de angiospermas marinhas, foi uma grande
descoberta, porque esta espécie era considerada até extinta do litoral brasileiro”.
A bióloga
destaca ainda a relevância da região pesquisada e de estudos como o proposto
pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. “A APA da Barra do Rio Mamanguape
apresenta características ecológicas que propiciam a existência de inúmeras
espécies da fauna e da flora, algumas até ameaçadas de extinção, como é o caso
das angiospermas marinhas. É importante realizar estudos de mapeamento dessa
vegetação ao longo do litoral do Brasil, realizando um monitoramento do
desenvolvimento destas plantas e levantando as causas que vem proporcionando a
perda de áreas destes ecossistemas, visando contribuir no direcionamento de
esforços para a conservação destas espécies, que são umas das principais fontes
de alimento para o peixe-boi marinho”, explica Maria Elisa.
A
pesquisadora Karine Magalhães há anos estuda as angiospermas marinhas e se
mostra otimista com o resultado da pesquisa na APA da Barra do Rio Mamanguape.
“A descoberta desta população irá atrair ainda mais atenção aos ecossistemas
aquáticos e a estas plantas que fornecem diversos serviços ambientais, como é o
caso de ser alimento do peixe-boi marinho. Para o meio acadêmico, em especial
para os pesquisadores da área, a notícia é excelente já que confirma a
existência de mais uma população desta espécie, pois hoje só há 10 ou 11 ao
redor do globo. Para o Brasil o fato é muito mais significativo, já que se
considerava esta espécie como extinta, havia apenas dois registros com mais de
30 anos de plantas soltas, e não populações da espécie. Este fato reforça a
necessidade de mais pesquisas na área e, principalmente, servirá para
aumentarmos os esforços de proteção a áreas como a APA da Barra do Rio
Mamanguape, já que a mesma abriga uma das poucas populações desta espécie
rara”, explica Karine.
A
coordenadora científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e também diretora
vice-presidente da FMA, Jociery Vergara-Parente, ressalta a importância da
publicação científica e das parcerias com pesquisadores das universidades. “A publicação deste
artigo é mais um dos produtos que consagra o pleno desenvolvimento do Projeto
Viva o Peixe-Boi Marinho, que caracterizou no resgate das ações técnicas da
Fundação Mamíferos Aquáticos voltadas à conservação dos peixes-bois na APA da
Barra do Rio Mamanguape. A parceria entre a FMA e a pesquisadora Karine
Magalhães é de muitos anos e é sempre um prazer tê-la envolvida em nossos
projetos com tamanho empenho. A dedicação e seriedade de toda a equipe
envolvida na pesquisa não poderia ter sido melhor coroada, as fanerógamas
marinhas são uma importante fonte de alimentação para os peixes-bois e a
redescoberta desta espécie em nosso litoral, sem dúvida, é um fato de destaque
tanto para nossos mamíferos aquáticos herbívoros, como uma notícia importante
para a flora costeira”, afirma Jociery.
Foto 1: Karine Magalhães
Foto 2: Genilson Geraldo/ Acervo FMA
Foto 3: Edson Acioli/ Acervo FMA