
O peixe-boi marinho (Trichechus manatus) está em perigo de extinção no Brasil. Para tentar
reverter esta situação, desde 2013, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM)
- uma estratégia de conservação e pesquisa da Fundação Mamíferos Aquáticos para
evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil – vem atuando no litoral
norte da Paraíba, mais precisamente na Área de Proteção Ambiental da Barra do
Rio Mamanguape, uma região com atributos ecológicos que propiciam a existência
da espécie. A partir de uma experiência que vem surtindo avanços na Paraíba,
este ano, o Projeto, que conta com o patrocínio da Petrobras, vai expandir suas
ações para outros estados do Nordeste com atividades socioambientais que visam
a conservação tanto do peixe-boi marinho quanto de seu habitat, agregando
neste contexto a participação social. Além da Paraíba, serão contemplados
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (todos considerados rota de ocorrência do
animal, porém com os ambientes costeiros extremamente impactados por ações
humanas).
A principal ameaça à espécie no Brasil ainda continua sendo os impactos
ambientais provocados pelos seres humanos. Lixo, esgoto e substâncias tóxicas
lançadas nos mares e nos rios, circulação intensa de embarcações motorizadas
nos locais de ocorrência da espécie, degradação dos manguezais, destruição da
mata ciliar, construções desordenadas em praias e estuários, perda de habitat
(estuários e áreas costeiras), captura acidental em redes de pesca. Todos
estes fatores vêm colocando em risco o ambiente, a saúde e a vida dos
peixes-bois marinhos. As estratégias desenvolvidas pelo Projeto Viva o
Peixe-Boi Marinho, com diretrizes nacionais e internacionais para a conservação
de sirênios, foram pensadas para tentar reverter ou minimizar estas ameaças. O
PVPBM atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite
(inédita do Brasil), resgate, acompanhamento e reintrodução de filhotes ao
ambiente natural, educação ambiental, cultura, turismo ecológico e políticas
públicas voltadas para conservação da espécie e áreas marinhas protegidas.
Em cada estado que o Projeto atuará, serão desenvolvidas ações específicas para
o contexto do local. “Os peixes-bois marinhos são considerados um dos mamíferos
aquáticos mais ameaçados de extinção no Brasil e os habitats utilizados
por estes animais encontram-se seriamente comprometidos. Em Sergipe, por
exemplo, apesar de a região ser dotada de atributos ecológicos propícios ao
peixe-boi marinho, o grande problema é a questão do tráfego de embarcações
motorizadas em áreas de ocorrência da espécie, que vem causando atropelamento e
mutilações nos animais. Desta forma, neste estado, nós vamos atuar monitorando
os peixes-bois marinhos reintroduzidos e desenvolvendo ações de educação
ambiental, com palestras e atividades culturais, a exemplo do Cine Peixe-Boi
com exibição e estímulo à produção de vídeos voltados para a conservação
ambiental”, explica o pesquisador e médico veterinário, João Carlos Gomes
Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.
Em Alagoas, estão previstas campanhas educativas e participação no
desenvolvimento de políticas públicas junto a APA Costa dos Corais e a APA
Piaçabuçu. O projeto também atuará no extremo norte da Bahia com educação
ambiental, promoção de eventos eco culturais e monitoramento via satélite de um
peixe-boi marinho reintroduzido. No estado de Pernambuco, a atenção vai para o
litoral norte, mais precisamente para a costa do município de Goiânia até a
praia de Carne de Vaca, com a realização de campanhas educativas e contribuição
em fóruns ambientais voltado para a construção de políticas públicas. “A
participação das comunidades litorâneas nestas ações é de fundamental
importância para a conservação dos peixes-bois marinhos e de seu habitat.
Nós acreditamos que somente por meio da troca de experiências e conhecimentos
com estes atores sociais (moradores, pescadores, estudantes, professores,
comerciantes, turistas, ONGs, governos), aliadas a um processo de educação
ambiental é que vai ser possível obter avanços na área”, complementa o
pesquisador.
O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – patrocinado pela Petrobras, por meio do
Programa Petrobras Socioambiental – possui uma base executora na APA da Barra
do Rio Mamanguape (PB) e conta com estruturas de apoio nas unidades da Fundação
Mamíferos Aquáticos localizadas no Recife (PE), Aracaju (SE) e Mangue Seco
(BA). A FMA é uma organização social sem fins lucrativos que há 28 anos
trabalha com a missão de promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats,
visando a sustentabilidade socioambiental. Qualquer informação sobre peixe-boi
marinho (casos de encalhe, ameaças, dúvidas), entre em contato pelos telefones:
(83) 99961-1338/ (83) 99961-1352/ (81) 3304-1443.
Saiba mais sobre a espécie
O peixe-boi marinho é um mamífero aquático da ordem dos Sirênios, da família
Trichechidae. Num ambiente saudável e livre de ameaças, ele pode viver de 50 a
60 anos, chegando a ter aproximadamente 4 metros e a pesar em torno de 500 kg.
Apesar de todo este peso e do corpo volumoso, ele é herbívoro, se alimenta de
algas, capim-agulha, folhas de mangue, entre outras plantas marinhas. É um
animal extremamente dócil, mas que não deve ser tocado e nem domesticado pelos
seres humanos.
O peixe-boi marinho é uma espécie que tem características peculiares quanto à
procriação. Uma fêmea tem uma gestação que dura 13 meses e passa cerca de dois
anos amamentando o filhote. Ou seja, é preciso três a quatro anos para
gerar uma nova vida, o que torna ainda mais delicado o trabalho de conservação
da espécie.
Neste processo da relação mãe-filhote, é preciso bastante atenção. O ambiente
ideal para que a fêmea cuide do filho é aquele que tenha água calma e alimentos
ricos em nutrientes que sejam de fácil acesso, no caso os estuários e regiões
costeiras protegidas. É lá que elas buscam se reproduzir, parir e descansar.
Com o comprometimento destas áreas costeiras (em decorrência dos assoreamentos,
poluição, entre outros fatores) muitas vezes as fêmeas reproduzem em áreas
desprotegidas, o que acaba favorecendo para o encalhe dos filhotes.
Acompanhe também as atividades e ações do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho pelo
site www.vivaopeixeboimarinho.org ,
Instagram (@vivaopeixeboimarinho) e facebook (@vivaopeixeboimarinho).
Fotos: Luciano Candisani/Acervo FMA