
A médica veterinária do PVPBM, Vanessa Rebelo, coletou amostras dos órgãos e do
conteúdo gastrointestinal, que serão submetidas a análises laboratoriais e
servirão como informações complementares para a identificação da “causa mortis”
e para estudos e pesquisas voltadas para a conservação da espécie. O peixe-boi
marinho (Trichechus manatus) está ameaçado de extinção no Brasil. A
morte de um animal da espécie representa uma tristeza sem tamanho e uma perda
significativa, visto que existem poucos indivíduos ao longo da costa
brasileira. E, especificamente neste caso, com um agravante: provavelmente os
indivíduos se tratavam de uma mãe e um filhote. Fato extremamente forte e
simbólico para todos os profissionais e instituições que trabalham pela conservação
da espécie.
Os dois eventos de encalhe ocorreram em uma importante área de uso dos
peixes-bois marinhos no litoral da Paraíba: o estuário do Rio Miriri. Existem
preocupações crescentes acerca das atividades de pesca praticadas neste local
em decorrência das redes utilizadas (malhas grossas e com extensão de uma
margem a outra do rio), o que representa um risco direto para esta espécie,
sobretudo quando estes animais estão com filhotes, pois utilizam os estuários
com muita frequência.
O peixe-boi marinho possui características peculiares quanto à procriação. Uma
fêmea tem uma gestação que dura 13 meses e passa cerca de dois anos amamentando
o filhote. Ou seja, é preciso três a quatro anos para gerar uma nova vida, o
que torna ainda mais delicado o trabalho de conservação do peixe-boi marinho.
Neste processo da relação mãe-filhote, é preciso bastante atenção. O ambiente
ideal para que a fêmea cuide do filho é aquele que tenha água calma e alimentos
ricos em nutrientes que sejam de fácil acesso, no caso os estuários e regiões
costeiras protegidas. É lá que elas buscam se reproduzir, parir e descansar.
Com o comprometimento destas áreas costeiras (em decorrência dos assoreamentos,
poluição, entre outros fatores) muitas vezes as fêmeas reproduzem em áreas desprotegidas,
o que acaba favorecendo para o encalhe dos filhotes.
Em um ambiente conservado, estes animais podem viver uma média de 50 a 60 anos.
No entanto, os impactos ambientais provocados pelo homem ainda representam a
maior ameaça à espécie. Lixo, esgoto e substâncias tóxicas lançadas nos mares e
nos rios, circulação intensa de embarcações motorizadas nos locais de
ocorrência da espécie, degradação dos manguezais, destruição da mata ciliar,
construções desordenadas em praias e estuários, a perda de habitat (estuários e
áreas costeiras), a captura acidental em redes de pesca. Todos estes fatores
colocam em risco o ambiente, a saúde e a vida deste mamífero.
A equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação
Mamíferos Aquáticos (FMA) e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa
Petrobras Socioambiental – orienta que caso alguém encontre um peixe-boi
marinho ou qualquer mamífero aquático encalhado, vivo ou morto, nas praias da
Paraíba, o primeiro procedimento é comunicar ao órgão ambiental atuante na
região ou entrar em contato com a FMA, pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83)
99961-1352/ (81) 3304-1443. Em casos de encalhe de animais vivos, enquanto
aguarda a chegada do resgate, a pessoa deve seguir as seguintes orientações: 1-
Se o animal estiver exposto ao sol, proteja-o fazendo uma sombra; 2- Não o
alimente e nem tente devolvê-lo à água; 3- Evite aglomeração a sua volta.
Foto: Genilson Geraldo/ Acervo FMA